ENTREVISTA: Agenciadora de talentos Leonor Babo

Agenciadora de talentos icónicos, Leonor Babo conta ao Olhar Brasileiro sua trajetória de sucesso e os desafios que pretende superar.

Como se tornou uma agenciadora? Trabalhar nessa área sempre foi um desejo?

Sempre me fascinou o mundo do espetáculo, mas nunca pensei em ser agente, na verdade não sabia muito bem o que isso era, não é uma profissão para a qual se possa tirar um curso. Quando acabei o liceu, achei boa ideia tirar o curso de psicologia, mas depressa percebi que não era esse o meu caminho. Tive a sorte de conseguir um estágio numa rádio e lá conheci um rapaz que um dia me disse que tinha ido fazer um casting, perguntei-lhe o que era um casting, ele explicou-me, fiquei curiosa e pedi o contacto da produtora que o tinha chamado. Liguei para essa produtora e pedi para observar o trabalho deles, acabaram por contratar-me para um part-time.
Entretanto, fiz vários workshops e cursos de produção e um dia bati à porta da Patrícia Vasconcelos, que é uma diretora de casting muito conceituada em Portugal. Se era para trabalhar nessa área, que fosse com a melhor! Trabalhei durante muitos anos com a Patrícia e isso deu-me a oportunidade de perceber como é que as agências e os agentes trabalham. No mesmo prédio em que a Patrícia tinha o escritório, também estava um agente, na altura penso que o único que trabalhava a solo em Portugal, o Rui Calapez. Eu ia muitas vezes para o escritório dele e enchia-o de perguntas. O Rui com uma enorme paciência sempre me esclareceu todas as dúvidas e isso foi despertando em mim cada vez mais vontade de ter esta profissão. Anos mais tarde, conheci o Filipe Canto e Castro, dono da “Quick Casting”, e com ele iniciei um projeto de agenciamento. O Filipe deu-me todas as ferramentas para que eu pudesse começar. Hoje em dia trabalho a solo e tenho um bord de atores que trabalham exclusivamente comigo e que podem espreitar aqui: www.leonorbaboactores.com

Como é o trabalho de um agenciador?

Um agente de atores é o representante do ator em tudo o que diz respeito a trabalho. Deve estar sempre atualizado em relação ao que se passa no meio artístico. Deve procurar saber que projetos vão arrancar em cinema e em televisão, estar atento a audições para teatro, castings para publicidade etc… Tem que mostrar aos produtores e diretores de casting que os seus atores são os indicados para determinado papel. Tem que defender os atores nas negociações dos contratos para que estes tenham as melhores condições possíveis para realizar os trabalhos. E estar sempre disponível para ajudar os seus agenciados em qualquer questão que surja relacionada com o trabalho. Na realidade um agente de atores é uma espécie de mãe, pai, advogado, psicólogo, padre e saco de boxe!

A vida por trás das câmaras também tem glamour?

A ficção imita a realidade… A vida por trás das câmaras pode ou não ter glamour, depende da forma como a vivermos.

Quais as dificuldades do início da carreira?

Sinceramente, gosto tanto da minha profissão que acho que é tudo muito fácil. Penso que será diferente para todos, no meu caso, no início, talvez a minha maior dificuldade tenha sido encontrar um equilíbrio entre a minha vida pessoal e a relação com cada ator. Quando está tudo centrado em nós, torna-se muito difícil desligar. Foi um exercício que demorei muito tempo a aprender, anos.

Quais as mudanças no mercado dos agenciadores? A internet ajuda ou atrapalha?

Entrevista

A internet pode ajudar e muito, mas há-que saber usá-la. Penso que a mudança mais visível é a abertura para os mercados internacionais. Hoje em dia acontece com muita frequência os atores fazerem castings para produções estrangeiras. O mercado está muito mais alargado e a internet é fundamental neste processo. Por outro lado, as redes sociais para muitos atores, músicos, bloggers, etc., devido ao elevado número de seguidores que têm, tornaram-se uma fonte de rendimento. As figuras públicas são apelativas para as marcas porque podem influenciar os seus seguidores. Para gerir todas estas situações ligadas ao mundo digital e à imagem da figura pública, existem agências próprias. Há uns anos atrás nada disto existia, nisso o mercado mudou e tudo graças à internet. Se ajuda ou atrapalha torna-se relativo, depende da forma como os atores gerirem estas novas possibilidades.

Muitos artistas brasileiros têm procurado espaço em Portugal. Quais são as principais mudanças que a integração traz para o meio?

Há um maior intercâmbio entre Portugal e o Brasil que na minha opinião é bastante positivo. E as novelas tornam-se mais globais, o que também considero positivo. Este intercâmbio é muito enriquecedor pois trata-se de um intercâmbio cultural entre dois países já de si com uma vasta riqueza cultural. Nós passámos 20 anos a consumir novelas brasileiras antes de termos começado a produzir as nossas, os atores brasileiros são bastantes conhecidos cá e penso que existe um carinho muito grande não só por eles como também pelo país. Esta vinda de atores brasileiros para Portugal está a ser muito bem acolhida exatamente por isso. Acho que só tem que ser positiva esta integração.

Com as festas a chegar e o trabalho a “mil”, como concilia a vida profissional e pessoal?

Às vezes dava jeito que o dia tivesse 48h, mas sou muito organizada, isso ajuda bastante e consigo gerir tudo com alguma tranquilidade.

Como é o seu relacionamento com os artistas que agência? Sabemos que alguns são mais exigentes que outros. Como lida com essas situações?

A relação entre o agente e o ator é uma relação muito próxima e diária e para mim torna-se difícil não desenvolver uma relação de amizade. Gerir a fronteira entre essa amizade e o trabalho é que pode ser às vezes complicado, mas aprendi ao longo dos anos a separar e consigo fazê-lo com alguma facilidade hoje em dia. Tenho uma relação de amizade com todos os atores que represento, não é uma necessidade, mas é inevitável, por esse motivo não tenho dificuldade em lidar com maiores exigências porque existe um respeito mútuo e uma verdadeira vontade deestar nesta relação. Raramente discordo dos meus agenciados e quando discordamos, depressa conseguimos chegar a um meio termo.

O que é necessário para ser um bom agenciador de talentos?

Na minha opinião, um bom agente de atores deve ser muito organizado e ter uma paciência infindável para falar ao telefone. Deve ser uma pessoa sensível, inteligente, assertiva, empática…, mas acima de tudo, tem que gostar mesmo de atores, compreendê-los e acreditar neles.

Quais as fronteiras no mercado de agenciadores que pretende ultrapassar?

Quero poder ter cada vez mais parcerias com agentes de outros países de forma a que os atores que represento possam trabalhar livremente nos vários mercados internacionais com facilidade. Ainda há muitas questões burocráticas que limitam o intercâmbio entre os atores portugueses e alguns países. Mas com o aparecimento da “Netflix” e plataformas
idênticas, o mercado está a caminhar para uma maior globalização e acredito que a tendência será as fronteiras desaparecerem.

O que espera para 2019?

Em 2019 espero um ano de grande crescimento na indústria, com a internacionalização das produções nacionais e com os desafios de trabalhar num mercado cada vez mais global e sem fronteiras.

Entrevista

Leonor Babo é uma das agenciadoras de talentos mais conceituadas do país. Natural de Beja e lisboeta de coração, tem no seu catálogo de associado nomes como Daniela Melchior, Renato Godinho e o brasileiro Henri Castelli.

Jornal Olhar

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