ENTREVISTA: Ricardo Rio

Inovação, investimento e empreendedorismo. A InvestBraga está a dinamizar a economia bracarense

Braga está a crescer a largos passos nos últimos anos e está a atrair turistas, imigrantes e investidores de vários países. Para dar conta deste crescimento e fazer de Braga um sítio cada vez mais estruturado surgiu a InvestBraga, uma espécie de braço económico da cidade. Para compreendermos um pouco mais desta dinámica, o Jornal Olhar Brasileiro conversou com o Presidente da Câmara Municipal de Braga e também Presidente de Administração da InvestBraga, Ricardo Rio.

Como o senhor vê a atual vaga de brasileiros em Braga?

Vejo com muito bons olhos, não serão menos de 10 mil brasileiros que terão chegado nestes últimos 2 anos à cidade sem contar com o fluxo normal de estudantes que já ocorria aqui nas universidades.

O senhor acredita que este perfil de brasileiros é mais empreendedor?

É um perfil muito diferente de outras vagas de imigração que tivemos no passado, estamos a falar de pessoas que na sua esmagadora maioria vieram com bastantes recursos económicos, com qualificações e com este espírito empreendedor que vemos pelo volume de contacto que temos recebido com intenção na concretização de projetos de investimento, de projetos sociais e de projetos culturais. Portanto, quando se refere à questão empreendedora, até não apenas só na questão estritamente económica, pessoas que querem se envolver ativamente na comunidade, organizar eventos, organizar toda uma série de dinâmicas para a cidade no seu todo.

Há diferença deste perfil em relação a de outros grupos de imigrantes?

Não tem comparação. No passado Braga teve outras vagas de imigrantes de outras nacionalildades e até mesmo de brasileiros, com muito menos recursos, com muito mais dificuldades de inserção no mercado de trabalho e com muito menos qualificações, e isso era o padrão normal não apenas para os brasileiros, mas também para outras comunidades do leste europeu, da África e dos países Lusófonos que correram à cidade.
Esta é realmente uma massa populacional completamente diferente e que também ajuda a qualificar a cidade e a torná-la uma cidade mais aberta, mais cosmopolita como nós temos procurado que assim aconteça.

Falando um pouco do Plano Estratégico e de Desenvolvimento Econômico (2014 a 2026) para a cidade e a criação da InvestBraga, o senhor acredita que isto influenciou na vinda de brasileiros para Braga?

Eu acho que há uma dimensão que tem sido o principal fator de atração para a cidade de Braga e que indiretamente se reflete com esse plano estratégico que é a visibilidade internacional que a cidade ganhou nestes últimos 4 anos e que tem tido uma dimensão que nós temos procurado trabalhar, porque como eu costumava dizer, Braga era uma jóia escondida.
As pessoas não tinham conhecimento mesmo falando de brasileiros, tirando obviamente aquela população que tinha ligações familiares com pessoas originárias de muitas vagas de imigração daqui do norte de Portugal e de Braga. Mesmo pessoas que já tinham visitado Portugal eram normalmente mais encaminhadas para Lisboa, o Porto, Coimbra, Fátima, ou mesmo para o Algarve e muitas não vinham de facto ao Minho. Um dos trabalhos que nós temos procurado desenvolver ao longo dos últimos anos foi dar a conhecer ao mundo aquilo que é a realidade do nosso concelho.
Braga é uma cidade muito jovem, muito dinâmica e tem um conjunto de actividades também ao longo do ano. É claramente uma das cidades com maior qualidade de vida não apenas em Portugal, mas diria até a nível europeu onde fomos considerados a terceira cidade mais feliz com base na opinião dos cidadãos que aqui residem. É uma cidade completamente infraestruturada em termos de todas as valências necessárias para a vida de uma pessoa ou de uma família em termos de acesso à habitação, à educação, à saúde, espaços de lazer, enfim, uma dinâmica cultural muito interessante, e depois com uma dimensão, também ela crítica, para muitos desses brasileiros que aqui tem vivido que é a questão da segurança, é uma cidade absolutamente hospitaleira, segura e confortável.
No nosso plano estratégico, a componente da internacionalização que tem sido trabalhada é a captação de novos investimentos e novas empresas e a criação de oportunidades de trabalho qualificado para as pessoas. Por mais interessante que fosse a cidade, se não houvesse uma dinâmica económica que a suportasse e obviamente alimentasse, não haveria a integração das pessoas que aqui se dirigem, pois nem toda a gente é empresária, nem toda a gente é empreendedor, há pessoas que se dirigem para a cidade de Braga e que acabam por encontrar aqui postos de trabalho nas muitas empresas que nós temos.

E o papel da InvestBraga neste contexto?

A Invest Braga tem aqui um papel importante porque além do plano estratégico tem um trabalho operacional fundamental que é o acompanhamento dos projetos de investimento. Hoje em dia qualquer investidor que queira concretizar um projeto em Braga, a primeira coisa que deve fazer e que eu aconselho é a InvestBraga, pois vai a receber da nossa parte, sem qualquer tipo de custo, todo o acompanhamento na concretização de seu projeto, desde a localização, como também para contratar recursos humanos e para obter informações especializadas.
Enfim, toda uma série de questões que tem a ver com a tramitação urbanística dos projetos, com a tramitação junto a diversas instâncias, porque a InvestBraga e a Câmara Municipal têm funcionado juntas como agentes facilitadores para a concretização destes projetos.
Um dos vetores estratégicos de intervenção é um empreendedorismo muito orientado para 4 áreas em particular, que contemplam as novas tecnologias, a biotecnologia, a ciência da saúde.

Por que estas quatro areas?

Por que são aquelas em que existe em Braga, na ligação da Universidade do Minho e do INL, uma maior base de conhecimento produzido e onde é mais natural existir um espaço para inovação, para a criação de novas empresas, novos produtos, novos serviços, novas tecnologias e, portanto, empreendedorismo.
O Altice Forum Braga que é um dos pilares de intervenção na Invest Braga. É o espaço que nós, há um ano, requalificamos completamente. Era um antigo parque de exposições que estava bastante deteriorado, sem grandes condições do ponto de vista de sinalização, da climatização, do conforto e de organização dos espaços na sua funcionalidade. Foi o maior investimento que fizemos numa obra pública em termos recentes por volta de 9 milhões e meio de euros que dotou de condições excepcionais para realizar todo o tipo de eventos.
Nós temos grandes feiras e exposições, temos grandes concertos, temos grandes eventos desportivos, temos uma dinâmica de congressos de eventos de várias naturezas, até por força da versatilidade de espaço que nós temos. São vários auditórios, um dos quais é o maior a norte do país com 1,5 mil lugares. Temos a grande nave com 5 mil metros cobertos da área de exposição onde pode acontecer de tudo um pouco, como exemplo terá no fim do ano o concerto do Bryan Adams.
E obviamente que o Altice Forum Braga representa uma mais-valia muito grande para uma dimensão que nós também temos trabalhado que é o turismo de negócios, turismo de feiras e congressos.

A InvestBraga completou cinco anos em março. Qual o balanço o senhor faz deste período?

Têm sido 5 anos de muito sucesso, os resultados falam por si. Eu costumo dizer que o mérito não é da InvestBraga ou da Camara Municipal que acabam por ser facilitadores como dizia há pouco, o mérito é dos empresários que têm criado as condições para atrair novas empresas e novos postos de trabalho. Nós, nestes 5 anos, reduzimos em mais de 50% a taxa de desemprego no concelho, criamos quase 9 mil postos de trabalho líquidos em Braga, de lugares bastante qualificados e bem remunerados na sua esmagadora maioria. Atraimos empresas de grande prestígio internacional como a Accenture, a Fujitsu, a Farfetch, a Altsystems e até unidades comerciais como a Ikea e a Starbucks. Há outras empresas que já cá estavam e que muito têm crescido ao longo dos últimos anos como é o caso da Bosch, que era o nosso maior empregador privado pois já em 2013 tinha cerca de 2 mil colaboradores. Hoje já tem 3,7 mil e passou a ter aqui em Braga não apenas uma unidade produtiva mas os centros de investigação e desenvolvimento que exportam conhecimento para o mundo inteiro.
Braga hoje é o terceiro concelho mais exportador do país e que tem 2 mil milhões de euros exportados. Também tem tido taxas de crescimento de turismo na ordem dos 35% ao ano. Tivemos meio milhão de dormidas no ano passado na cidade e obviamente estamos a registar um periodo de crescimento, mas se perguntar qual é o marco mais importante de todos estes números, eu diria que é o facto da InvestBraga ter finalmente posto toda a gente a trabalhar em conjunto, todos os agentes do conselho alinhados do ponto de vista estratégico, desde a Câmara Municipal, a InvestBraga, as associações empresariais, a universidade até os agentes culturais.

E quanto às empresas brasileiras, há uma dimensão de quantas foram abertas através do InvestBraga?

É difícil quantificar, pois houve situações diferentes: casos de criação de novas empresas ou casos de estabelecimento de parcerias comerciais ou de aquisição por investidores brasileiros de empresas que já estavam no concelho. Nós temos hoje em carteira alguns investimentos que a concretizarem-se vão de facto ser muito importantes. Por exemplo, tivemos um caso de uma empresa brasileira de referência como a Cineplace no Nova arcada, que é referência na área do cinema e que estão hoje também interessados em expandir esta presença no nosso conselho para outras áreas de actividade.

Para os investidores que pretendem empreender em Braga, o Senhor aconselha procurar diretamente a InvestBraga?

Sim, eu acho que claramente a melhor maneira de acelerar o seu projeto de investimento é contactar a InvestBraga através do nosso espaço do investidor e através da área de desenvolvimento económico e nos explicar quais são seus projetos as suas ambições. Pode ser por estas vias, por parcerias com empresas locais, pode ser para estabelecer ou adquirir algum tipo de empresa num setor em particular ou para expandir a atividade, nós temos tido muitos casos de empresas já instaladas no Brasil e que fizeram alargar serviços aqui para Braga na área comercial, na área industrial, e este é um movimento que é perfeitamente plausivel naquilo que são os mecanismos que a própria InvestBraga tem para apoiar. Há um regulamento de incentivos para investimeno e de investimento de intervenção urbanística, e todos os outros apoios a que me referi, que no fundo podem apoiar a quem quer conhecer melhor o mercado de Braga e trabalhá-lo mais rapidamente.

Falando dos eventos, teremos em breve a Semana da Economia, o senhor pode nos falar um pouco sobre como será?

A Semana da Economia costuma ser um momento de prestação de contas. Nós gostamos de mostrar o que tem sido feito pela InvestBraga. Portanto, o programa visa cobrir cada uma das áreas principais de atividade do concelho, o turismo, o comércio, o componente industrial, dos serviços, e de demonstrar aquilo que são as evoluções recentes de cada uma dessas áreas.
Temos uma cimeira dos nossos embaixadores empresariais que são já 25, das principais empresas de Braga que têm vocação exportadora que são também eles auxiliares importantes do trabalho que temos desenvolvido ao longo deste período. Temos depois um momento muito importante que é o Forum Económico que vai decorrer na quarta feira, no dia 7 de julho de 2019. É o momento de debates sobre tendências não apenas a nível local, mas também em escala global com um foco muito grande este ano numa questão para nós que é muito importante que é a questão da captação e da retenção de talentos. Nós estamos também a trabalhar num projeto que desenvolvemos em parceria com os nossos embaixadores empresariais, que é trazer mais pessoas qualificadas para a cidade de Braga, pois há algumas áreas em que temos esta necessidade. Muitos dos projetos que hoje estão em carteira para serem concretizados precisam de mais engenheiros, de mais pessoas com formação nas novas tecnologias e que portanto, quanto mais pessoas conseguirmos trazer nestas áreas, mais provável é que alguns desses projetos tenham continuidade.
Essa é uma das áreas centrais e depois a Semana da Economia é também uma oportunidade para dar espaço aos agentes de cada um dos setores, de se darem a conhecer. Nós vamos ter este ano de forma muito especial uma mostra empresarial. Também podemos dar a conhecer aos bracarenses que nos visitarem aquilo que é o trabalho realizado pelas empresas de Braga. Muitas pessoas não sabem que em Braga hoje se estão a inventar os melhores sistemas de interface homem-máquina nos veículos automóveis das principais marcas mundiais, os principais sistemas de sensorização e tudo o que tem a ver com condução autónoma.
Ainda recentemente foi inaugurada uma nova unidade do grupo DST em que o próprio Primeiro Ministro ficou surpreendido ao saber que eram empresas de Braga que estavam a trabalhar e a construir um novo aeroporto em Amsterdão, uma expansão do aeroporto de Schiphol e isto é obviamente conhecimento que é produzido na cidade de Braga. São novos produtos, novas tecnologias, portanto esta mostra empresarial vai também ter uma dupla função, por um lado também dar a oportunidade de possibilitar um contacto com fins de recrutamento para todas essas empresas, mas ao mesmo tempo também demonstrarem aquilo que é a tecnologia e as inovações que estão a desenvolver.

Voltando ao InvestBraga, qual é o próximo passo? Como o projeto atuará daqui para frente?

Nós temos várias ambições, há algumas áreas que sentimos que ainda podemos trabalhar melhor, a dar continuidade a este esforço de captação, mais projetos e mais investimentos. Uma delas tem a ver com a qualificação das áreas de localização empresariais, antes não tínhamos muitos espaços disponíveis para novas unidades empresariais então, fizemos uma revisão do plano diretor municipal em 2015 criando algumas zonas de expansão. Uma delas já foi plenamente aproveitada pela Bosch agora para duplicar as suas instalações.
Temos a mesma coisa em alguns outros locais do concelho, temos uma área dedicada à componente aeronáutica e automóvelna envolvente do autódromo e do aeródromo de Braga em Palmeira, temos uma zona mais ligada às tecnologias de saúde junto à Universidade do Minho e ao Hospital de Braga. Temos também o Innovation Arena que é um grande projeto que nós queremos concretizar aqui. É uma nova área de acolhimento para empresas inovadoras não para produção, mas para desenvolvimento e interface entre essas empresas e a Universidade do Minho. Temos obviamente todo um trabalho de continuidade da promoção da cidade em termos turísticos, da dinamização dos centros comerciais de primeira geração, da reabilitação urbana e uma grande preocupação neste momento, ainda com estas unidades no centro da cidade e a projetos que se possam revitalizar e continuar a oferecer esta dinâmica que a cidade tem vivido ao longo dos últimos anos.

Jornal Olhar

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