ENTREVISTA: Teotónio Andrade dos Santos

Aos 45 anos, Administrador dos Transportes Urbanos de Braga destaca bons resultados e inovações da frota

É natural de Braga?

Sim. Sou oriundo de uma família bracarense, licenciado em Engenharia de Gestão Industrial e com especialização em Transportes. Falo como administrador dos Transportes Urbanos de Braga que sou desde 2013.

É o mesmo que a Engenharia de Produção brasileira?

Sim e não. Aqui também tem Engenharia de Produção, mas tem algumas diferenças com relação a Gestão.

Tem algum profissional que o tenha inspirado?

Tenho vários. Admiro pessoas frontais e pessoas que tenham desempenhado funções públicas com retidão e com discernimento.


Como CEO da TUB, pode contar um pouco sobre a empresa?

Os Transportes Urbanos de Braga são uma empresa 100 % retida pelo município, tem cerca de 140 autocarros, um orçamento anual de cerca de 12 milhões de euros, percorre cerca de 6 milhões de quilómetros anualmente e transporta quase 12 milhões de passageiros ao longo do ano.

A TUB tem vindo a crescer e a atualizar-se nos últimos anos, como se vê por exemplo com a frota de veículos elétricos. Quais os resultados dessa modernização?

Nós temos vindo a conseguir resultados muito positivos nos últimos anos. A empresa deixou de ter prejuízos, como era habitual. Nos últimos cinco anos tem tido resultados positivos, fruto do crescimento do número de clientes, porque conseguimos criar um ecossistema mais favorável. Fizemos o congelamento dos tarifários, portanto, desde 2013 não há qualquer aumento e 2019 será o sexto ano sem alteração dos valores.

Algo positivo, pois o preço dos combustíveis tem aumentado…

Exatamente, conseguimos absorver com os ganhos de gestão os aumentos de combustíveis que foi brutal. Melhoramos significativamente as linhas de transporte, nomeadamente aquelas mais urbanas onde está a maior parteda população do Concelho. Inclusive foram criadas, em algumas zonas mais povoadas, frequências de quinze ou vinte minutos. Estabaleceu-se um novo paradigma com linhas que funcionam com a mesma oferta ao longo dos sete dias da semana com o intuito de promover a mobilidade sustentável e dar alternativa às pessoas de poderem não ter automóvel próprio.

Os horários costumam ser respeitados. É difícil fazer essa logística?

Não é fácil. A maior parte das vias não são próprias para transporte público. Compartilhamos as vias com o resto do trânsito e é uma gestão difícil em termos de horário e trabalho. Temos que conviver dessa forma e, portanto, para garantir que os serviços sejam efetuados dentro dos horários é preciso um grande trabalho de gestão.

É percetível que nos últimos anos o trânsito em Braga está mais complexo. O que foi apurado nesse sentido?

Braga é uma cidade totalmente segura, mas tem crescido muito ao longo dos últimos anos. Nomeadamente com mais turismo, novos habitantes e com economia a funcionar de forma mais intensa do que funcionava há quatro, cinco anos atrás. Verificamos também um aumento do transporte individual. Como a maior parte das cidades aqui do sul da Europa, tem carros a mais, e é nesse sentido que precisamos fazer alguma transposição para o transporte público e para modos mais suaves, como andar a pé, na bicicleta, etc… Em Braga, em média, cada carro que entra na cidade transporta 1,3 pessoas, ou seja, o carro ocupa cerca de 25 m², contribuindo para a insegurança e o aumento da poluição.

Quais as oportunidades e ameaças que visualizam na situação atual?

Nós tentamos ver sempre as oportunidades. Estudamos permanentemente a cidade, estamos sempre em conhecimento com as empresas que se instalam na cidade, com as universidades, com os principais polos geradores de mobilidade da cidade, de modo a que possamos sempre responder antecipando o problema.

A TUB está sempre envolvida em projetos que visam a mobilidade sustentável. O fato de ser uma empresa municipal colabora para a qualidade desse serviço e não apenas o lucro?

Sim, nós participamos intensamente nas atividades que o município apoia e não ganhamos dinheiro nesses dias em que há transportes especiais e eventos da cidade, mas no fundo damos a conhecer e fazemos promoção do nosso serviço. Paralelamente existe a questão desde que Portugal esteve intervencionado pela troika. Existe uma lei muito restritiva para as empresas municipais, como é o nosso caso, em que nós não podemos ter prejuízos de três anos consecutivos, porque senão temos que fechar.

Também não podemos ter receitas próprias inferiores a 50%, portanto, não pode vir o presidente da Câmara com um cheque no final do ano e compor o orçamento. Isto obriga-nos a caminhar, a trabalhar, a ir à procura de clientes e a ter resultados positivos. E é isso que temos vindo a conseguir fazer. Só para terem uma ideia, nas últimas linhas que lançamos, fizemos
campanhas porta a porta, apartamento a apartamento, escritório a escritório, ao longo do percurso dessas linhas para dar a conhecer, para dar a divulgar e informar os horários.

Existe uma situação muito interessante, a história do transporte público em Braga tem cerca de 130 anos e a melhor linha dos TUB foi criada em 2016. Ou seja, significa que acertamos com o percurso, com os horários e com a promoção que antecipamos, relativamente a abertura de alguns espaços comerciais e algumas empresas que estavam a preparar-se para se instalar em Braga.

Existe alguma perceção de como os estrangeiros utilizam ou se utilizam o transporte?

Sim. Estamos a acompanhar. Temos um gabinete de estudos que estuda em permanência o mercado, as empresas que se instalam e os passageiros que temos ao longo do dia. Notamos que para a comunidade brasileira o transporte público tem grande importância. Notamos também que alguns monumentos e patrimónios como o Bom Jesus e o Sameiro são muito visitados. Os estrangeiros utilizam muito, principalmente para visitar o Bom Jesus nos períodos de verão e nos fins de semana. Fazemos também campanhas nos hotéis e junto ao alojamento local. As informações estão relativamente atualizadas no site. Além disso, temos um aplicativo que nos permite dar a conhecer os horários do percurso e traçar trajetos para quem não conhece. Facilmente, uma pessoa que chega a Braga e aceder a nossa app, poderá traçar um destino entre ponto A e B e ser apresentada uma solução de transporte.

Quais são os próximos projetos que a TUB pretende implementar para
melhorar a qualidade de vida dos bracarenses?

Três questões para o futuro. Uma delas é a renovação da frota. Este ano já tivemos seis autocarros elétricos e no próximo ano virão mais 32 autocarros novos, sete elétricos e 25 a gás, que nos permitirão dar um impulso significativo na renovação da frota, que já está muito antiga. Paralelamente, compramos um terreno anexo ao nosso parque, em Maximinos, aqui em Braga, para fazer o alargamento e para construir uma sede social e umas oficinas novas. Inclusive já está pago. Custou cerca de meio milhão de euros, já está escriturado e já temos arquitetos a trabalhar no futuro do nosso parque de manutenção para dar aos nossos colaboradores condições de poderem trabalhar. Vamos continuar a investir nas novas tecnologias. Estamos a trabalhar com as melhores empresas da região para dar melhores condições de conforto, quer seja a nível de horários, informação ou monitoramento de veículos aos nossos clientes.

Quais os fatores mais importantes para o sucesso da TUB?

O principal fator de sucesso é o capital humano. Os colaboradores são pessoas capazes e muito empenhadas e que têm um grande conhecimento na área, porque esse negócio é muito difícil. Ao longo dos últimos anos, os transportes urbanos de Braga foram a única empresa de Portugal que cresceu em número de passageiros transportados e em volume de negócios. E isto sem aumentar qualquer tarifário, portanto, o crescimento foi efetivamente, pura e simplesmente por aumento de clientes.

Como é feito o processo de admissão na TUB?

Cada vez somos mais exigentes ao nível de recrutamento que é feito de uma forma tripartite. Participam os Transportes Urbanos de Braga, a universidade Católica de Braga e uma escola de condução. Ou seja, os motoristas passam por três provas. Os testes psicológicos na Universidade Católica, os testes de condução na escola de condução e depois mais uma entrevista. Só depois então é que são admitidos. Portanto, somos mais rigorosos.

Como é gerir uma empresa tão importante para os bracarenses?

É um desafio permanente, porque é um negócio muito difícil. Se virmos, quase todas as empresas nacionais dão prejuízo. O Estado tem vindo constantemente a ajudar as empresas de Lisboa e do Porto com subsídios. Aqui em Braga não temos isso. Temos apenas o Município, o nosso acionista único, a apoiar-nos com compensação tarifária devido aos descontos que são direcionados aos cidadãos. Portanto, é um desafio muito grande e constante na melhoria do serviço, na captação de clientes, na redução dos custos e na melhoria dos contratos que fazemos. Consequentemente,é um trabalho intenso e que ocupa um tempo significativo.

Dedicar tanto tempo a esse serviço vale a pena?

Vale! Quando olhamos os resultados e vemos que chegamos ao final do ano com resultados positivos, que somos a melhor empresa que apresenta resultados a nível nacional, que ainda há pouco tempo a DECO indicou que a empresa de Braga apresentou os maiores índices de satisfação dos clientes, então a gente vê o trabalho reconhecido.

Jornal Olhar

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