Integração Portugal: Um Caso de Sucesso Gulbenkian, Dyego & Cia – ou todos aqueles que Portugal acolheu

Como a realidade dos fatos vem dando razão àquilo que sempre disse e escrevi – Portugal recebe de braços abertos todos aqueles que de forma franca aqui pretendem fixar a sua (nova vida), demonstrando uma capacidade de integração ímpar no mundo. Mesmo se o crescimento económico não deslumbra, mesmo havendo nuvens no horizonte, a verdade é que Portugal tem acolhido e integrado, centenas de milhares de pessoas nestes últimos anos. Neste espaço, venho abordando e refletindo sobre isso, sobre os números, efeitos e causas das migrações, emigração
e imigração, e das mudanças sócio-demográficas que a vaga de “Brasileiros” está “trazendo” a Portugal. A utilização do gerúndio não podia ser mais propositado – trazendo – pois é um movimento contínuo e crescente, que acontece em permanência e está a ter efeitos muito bons na economia (mais consumidores, mais investidores – mais pessoas!), e nos costumes, com uma sociedade que fica, mais espontânea e ágil, com a urgência da felicidade, daqueles que nos chegam.

Confesso a minha admiração e orgulho por tal capacidade integradora. Já sabíamos, há séculos, que os portugueses eram bons emigrantes tão bons que não voltavam! E tão bons, tão bons, que geraram luso-descendentes por todo o mundo e, mesmo de territórios que deixaram de ser Portugal, há centenas de anos, a “pátria” continua a atrair e a inspirar os descendentes.

Mas o regresso a Portugal dos luso descendentes foi sempre em números reduzidos. Nunca uma vaga como a de hoje. O país enfrentou contudo, pontualmente, vagas de imigração fortes, e todas assimilou bem. Não me refiro aos fluxos contínuos, em especial desde a adesão à EU. Refiro-me aos fluxos urgentes e massivos, decorrentes de crises globais. Quando a Europa, hoje rica, entrava na 2ª Guerra Mundial, Portugal tornou-se ponto de refúgio ou de passagem a quem fugia da guerra, do holocausto, ou procurava simplesmente um país calmo, pacífico, neutral, e com “comida”. Sim, comida, porque Portugal teve “senhas de racionamento” de comida, mas nos países da guerra havia fome! Ora entre Reis e realezas europeias, fugitivos da guerra de Espanha, refugiados judeus, pessoas da classe média e empresários, Portugal acolheu entre 1936 e 1945 muitos milhares de pessoas, que encheram os hotéis que existiam. Algumas tinham especial qualidade como o Senhor Calouste Gulbenkian, o Homem mais Rico do Mundo à época, que por algumas destas razões fixou residência em Portugal, e nos legou a sua fortuna numa das maiores Fundações do Mundo, e que leva o seu nome.

Em 1974, 1975 e 1976, foi a vez de Portugal assimilar os milhões que fugiram devido às Revoluções e às guerras nas províncias ultramarinas. Em cerca de 2 anos, aqueles que não queriam ficar subjugados ao diktat imposto pela União Soviética e pela China em África ou, que não fossem comprovadamente “bons” revolucionários, tiveram bens confiscados,vidas ameaçadas e tiveram que fugir. Recomeçaram em Portugal refugiados das colónias africanas. Daí afluíram pessoas em qualidade e quantidade,vindas de todo o Império, que este pequeno país não teria quiçá, capacidade para integrar.

Em quantidade, porque, ninguém sabe realmente quantos foram, entre 1 a 2 milhões, vieram para Portugal, onde não haviam casas, nem empregos, nem escolas, para acolhê-los condignamente. De qualidade, pois vieram pessoas ativas, empreendedoras, realizadoras e alegradas pelo sol tropical, que tinham nas ex-colónias construído cidades e economias do zero, embriões de novos países – mas que tiveram que fugir com, literalmente, a roupa no corpo. Vieram para este país de fado e “xailes negros”, triste, conservador e tradicional, e temeu-se o pior. Mas, uma vez mais, todas essas pessoas se integraram e fizeram deste exíguo retângulo, um país mais rico e diverso. Sabemos os que por cá ficaram e o que fizeram, afinal são portugueses – se bem que à época lhes chamavam, com preconceito, “retornados”, como se não fossem portugueses de primeira.

Pouco se sabe dos que vieram, e depois do susto, refizeram planos de vida e rumaram ao resto do mundo. Muitos vieram das colónias e foram para o Brasil, onde foram recebidos com novos desafios. São tantos que ninguém realmente sabe quantos são, nascidos na Índia portuguesa, em Angola, em Moçambique, e que recomeçaram a vida no Brasil. Casos notáveis e pouco conhecidos, de pessoas que não encontrando “espaço” em Portugal, ou cansadas de revoluções, encontraram no Brasil campo fértil. O Brasil acolheu e promoveu a Ministros, Magistrados, Universitários e Empresários de sucesso, muitos portugueses que partiram nessa época. Champalimaud, Espírito Santo, e poucos mais, regressaram a Portugal.

Os outros tiveram tanto sucesso pelo Brasil (como o milionário Lúcio Tomé Feiteira), que deixaram de ter interesse em ser conhecidos em Portugal, ou em disputar capas de revista, entrevistas na TV em Lisboa, ou a “Corte” política e pós-imperial de Lisboa. São portugueses, geram descendência portuguesa, mas não faziam questão que lhes dediquem atenção na Pátria. Portugal faria melhor em conhecer os “casos de sucesso” de portugueses no Brasil.

E como quem semeia, colhe, estamos a melhorar. De Braga foram os colonizadores de Minas Gerais, agora recebemos um novo “Olhar” e… o Dyego Souza no Braga – e na seleção Portuguesa! Parabéns Dyego, parabéns Portugal! Assim vamos recebendo de volta a energia de centenas de milhares luso-descendentes, que repovoam Portugal. Uns como lar e segunda pátria de coração, afeto ou passaporte. E outros, que olham para Portugal como a Pátria principal, numa devoção quase que inexplicável para quem canta o hino, venera a história e não nasceu em Portugal. Concluo que é com estas pessoas, consumidores e investidores, que vêm de fora da Europa, que se poderá repovoar o país (e o interior), dinamizar e fortalecer a economia. Imigrantes pagam impostos e contribuem para as reformas, para a Segurança Social. Logo o impacto é muito maior do que pensa. No longo prazo, se algumas vilas e aldeias do interior sobreviverem, será graças aos ovos imigrantes. E o potencial do PIB português, com mais pessoas, crescerá. Alguém ficou com dúvidas? Como dizia o Secretário Geral da ONU Nações Unidas: é só… fazer as contas!

Joaquim Álvaro Rocha R. da Cunha
Economista e Administrador
jrochacunha@gmail.com

Jornal Olhar

One thought on “Integração Portugal: Um Caso de Sucesso Gulbenkian, Dyego & Cia – ou todos aqueles que Portugal acolheu

  1. Excelente análise! Interessante traçar esse retrospecto imigratório de Portugal e identificar nesse processo, uma vocação nacional.

    Todos se beneficiam desse movimento imigratório de boas intenções, aumentando consumo, atividades e sustentabilidade demográfica.

    Cumprimentos, Lucas.

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