A porta de entrada na Europa

Portugal foi Império nos cinco continentes até há muito pouco tempo – escrevo este artigo no dia 25 de Abril, data da Revolução que, tinha eu cinco anos, iniciou o fim da era colonial. Este Império, diferente e multifacetado, deixou herança por todo o mundo. Luso-descendentes, língua portuguesa e um modo português de vida e sobretudo de cultura.

Por culpas de “pai” ou por ideologia de Quinto Império, os portugueses sempre olharam para os “filhos”, as ex-colónias com especial apreço.

Para as ex-colónias de África (os chamados PALOPs) o apreço era para lhes dar o que faltasse, seja ajuda económica, alimentar, escolar – isto não é retórico, é real.Ainda hoje encontramos países independentes que vivem do Orçamento de Estado de Portugal.

Para a Ásia e para o Brasil, o apelo não poderia ser esse, pois quer Macau/China quer Brasil tinham outros meios e outros horizontes.

Então Portugal desenvolveu uma política de posicionamento global como matriz dos países de língua portuguesa, e sobretudo como a porta de entrada na Europa para as ex-colónias. Se para algumas de África significa a sobrevivência, para o Brasil e para a China era um convite ao desenvolvimento, à porta aberta na Europa. Pois a partir do momento que Portugal integrou a então CEE, passou a ser a melhor (e mais fácil) porta de entrada na Europa e no seu vasto mercado.

Na verdade, os chineses perceberam isto rapidamente. Não por acaso, Macau só seria recebido pela China em 1999, depois desta recuperar Hong Kong dos Ingleses (1997), pois a relação entre a China e Portugal era de amizade, desde que no século XVI o Imperador da China ofereceu o arquipelago àqueles visitantes cristãos com quem se entenderia muito bem. Através desta histórica relação e do seu enclave milionário (Macau) cuja elite fala português, os chineses rapidamente usaram a longa aliança para entrarem na Europa, em África e no Brasil. Ou seja, os chineses fomentaram o mercado de língua portuguesa e o papel de Portugal, como ponte natural para entrada nos PALOPs e sobretudo no Brasil.

O Brasil, esse gigante adormecido e com menos sentido estratégico que a China, demorou a acordar. Demora. E como o país demora, os empreendedores e empresários brasileiros, por causa da crise, da política ou da insegurança, finalmente descobriram que Portugal era mesmo aquilo que os portugueses há muito anunciavam. A porta de entrada na Europa.

A vaga de empresários e empreendedores brasileiros que buscam Portugal não parou nem vai parar. Independentemente da melhoria económica e de segurança no Brasil, o “êxodo” ou migração ou alargamento de mercados vai continuar. Por razões afetivas, subjetivas e objetivas.

Objetivamente, Portugal é um país com uma infraestrutura de luxo a baixo custo. Mesmo com a subida do preço dos imóveis, viver em Portugal para uma família de 4 pessoas, é muito mais barato que viver em qualquer das grandes metrópoles brasileiras.

Ter acesso aos 500 milhões de consumidores da Europa com voos low cost e sem barreiras alfandegárias, e viver num país que tem reputação de qualidade na Europa, são argumentos que levaram décadas a construir.

Subjetivamente, a gastronomia e os vinhos portugueses são os melhores do mundo, come-se bem em qualquer lado, e sobretudo come-se bom e barato. Afetivamente, há o regresso à origem para muitos dos Brasileiros que, entretanto, obtiveram a nacionalidade Portuguesa (135.000 em 2018), e que lhes transmite uma efetiva segurança pública, acesso ao ensino e à saúde que no Brasil escasseiam e o conforto de falar a língua portuguesa.

E se os negócios não correrem fantasticamente em Portugal, não é problema. Muitos destes empreendedores migram ou vendem ou prestam serviços para o resto da Europa. Uma vez que legais em Portugal, têm acesso a esse vasto mercado. Portugal porta de entrada na Europa.

E para quem tem empresas e negócios consolidados no Brasil, a ponte aérea constante permite que se viva em Portugal e se receba no Brasil.

Este fluxo ainda invisível nos midia portugueses, é bem evidente na recuperação da emblemática Praça do Príncipe Real em Lisboa, ou no crescimento exponencial da TAP nas mãos dos brasileiros da AZUL.

E de resto, quais são serão os grandes empresários Brasileiros, que por amor sentimental, cautela, ou investimento, ainda não compraram um imóvel em Portugal?

Por estas e por outras, depois da China, o Brasil faz de Portugal, o que Portugal quis ser nos últimos 40 anos: a porta de entrada na Europa para os países por onde deixou história. Independentemente das políticas dos portugueses, isto está a ocorrer porque empresários Chineses e Brasileiros o fazem acontecer. Não foi a política: foi a vontade das pessoas que constroem a grande Nação da Língua Portuguesa.

Joaquim Álvaro Rocha R. da Cunha

Economista e Administrador

Jornal Olhar

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