Pedregulhos mentais

Em algumas encruzilhadas do caminho, precisamos de decidir qual a direção a escolher. Algumas escolhas são simples, enquanto outras envolvem decisões difíceis.

Inevitavelmente, às vezes deparamo-nos com um caminho mais tortuoso do que esperávamos, cheio de curvas íngremes, armadilhas, acessos negados, subidas cansativas, desfiladeiros, aldeias abandonadas, rios secos, furacões e tempestades, os problemas que nos sobrevêm calcinam toda a vegetação ao redor… Mas, como refrear o nosso aventureiro coração?

Somos mestres em correr atrás de sonhos inalcançáveis, amores impossíveis, objetivos impalpáveis ou apenas desejos secretos que nem ousamos formular em voz alta. E tudo isso para quê? Para provarmos a nós mesmos que somos independentes, que sempre seremos capazes de ultrapassar quaisquer obstáculos para conquistarmos o impossível!

Porém, muitas vezes o nosso coração é traiçoeiro. Cristaliza imagens inatingíveis como se estivessem bem ali, ao alcance de nossas mãos. Como se bastasse estalarmos os dedos para que, de repente, todos os problemas se resolvessem. Quando escolhemos as veredas de nossos caminhos, mesmo que descubramos que não foi a melhor escolha, mesmo que depois nos arrependamos por ter tomado tal rumo, de uma coisa tenho certeza: sempre será melhor do que ficarmos indecisos, sem conseguir transpor as barreiras que estiverem à nossa frente, pois o pior inimigo do homem é a indecisão.

Não há nada pior do que assistir o hemisfério esquerdo do cérebro debatendo com o direito, a sensatez contra a emoção, numa dúvida cruel que nunca desaparece. Evitemos essa tortura de uma vez por todas! Uma fez feita a sua escolha, abrace-a. Carregue seus argumentos consigo. Assuma as consequências e tenha orgulho de ter tido a coragem de escolher um caminho e não de ter sido levado pela correnteza por qualquer um. No mínimo, aqueles que escolhem seu destino venceram um dos maiores adversários do ser humano: o medo de fracassar. Construímos, em nossas mentes, imensas e intransponíveis barreiras que se interpõem no caminho de nossas decisões. Em cada possibilidade, criamos obstáculos virtuais, construídos por nossa mente tortuosa e insegura, os quais nos tentam provar que qualquer decisão provocará uma inevitável derrota.

E, de repente, esses enormes pedregulhos mentais se tornam obstáculos, verdadeiros pesadelos. Como se estivessem a aguardar apenas um descuido nosso para, por um único instante, atacar-nos com as suas facas invisíveis e dilacerar o nosso coração, ainda batendo, e depois exibi-lo como um cruel troféu às suas próximas vítimas, que tripudiam.

Por maiores e mais perigosos que sejam os pedregulhos físicos, sempre podemos desviar-nos ou atirá-los para longe, mas não os mentais, construídos pela nossa insegurança. Esses são intransponíveis. Se tentarmos lançá-los longe, eles voltam como bumerangues. A única maneira de transpormos essas barreiras invisíveis é olharmos para dentro de nós e tomarmos a decisão mais difícil: “jogarmos a insegurança para o espaço”, enfrentando os nossos próprios fantasmas e vencendo-os. Carregaremos connosco a experiência e memória dos passos, certos ou errados, que tomamos para enfrentar cada desafio que transpusemos. E, nessas batalhas, somos invencíveis, porque, mesmo que tomemos decisões erradas, mesmo que seja uma única vez, elas nos mostrarão o caminho para vencermos a próxima batalha, que não tardará a desafiar-nos. E, dessa vez, estaremos melhor preparados para vencer.

Lycia Barros
Escritora e conferencista

Jornal Olhar

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