Os Narradores de Javé – as histórias que compõem a História

Em maio, os alunos da turma do Mestrado em Comunicação, Arte e Cultura foram levados pela Universidade do Minho à cidade de Melgaço. Entre outras atividades, a turma foi apresentada ao Museu da Fronteira, onde conhecemos histórias da vida de pessoas comuns na fronteira entre Portugal e Espanha.

O museu oferece um registro muito mais intimista a respeito do que se passou nas regiões fronteiriças entre os dois países, especialmente no século XX. No acervo, além de peças e documentos, estão registradas memórias e objetos pessoais de quem viveu e testemunhou o que se passava nas fronteiras.

Em 2003, um filme brasileiro chamado “Narradores de Javé” se propôs a retratar esse precioso trabalho de registro das histórias cotidianas. Javé é um vilarejo que, no filme, será em breve submerso pelas águas por conta da construção de uma represa. Os moradores do local estão revoltados porque, além de precisarem abandonar suas terras e sua vida, não serão sequer indenizados por não haverem documentos que oficializem a existência daquela aldeia.

A única maneira de comprovar a existência de Javé – e tentar impedir a construção da barragem – é se a localidade fosse reconhecida como um patrimônio histórico. Ao saberem disso, os moradores, todos analfabetos, procuram o carteiro para contar toda a história do vilarejo e tentar criar um documento que provasse que o vilarejo precisava ser preservado.

Dirigido por Eliane Caffé, o filme tem no elenco nomes de peso, como José Dumont e Matheus Nachtergaele. Bem divertido, o longa mostra a luta dos habitantes para ter o seu espaço no registro da história de Javé, mesmo que tenham que inventar ou acrescentar detalhes fantásticos às suas experiências.

Entre as preciosidades que o filme nos oferece está o modo de falar das pessoas de Javé. Com expressões idiomáticas únicas e um sotaque próprio, há inclusive a mistura de palavras do iorubá.

Em Melgaço ou em Javé, é interessante reparar como as pessoas contam suas próprias histórias e gostam de ter registradas suas experiências de vida como parte de algo maior, coletivo. No fundo, por menor que seja nosso papel, nós todos somos personagens dessa grande narrativa.

Daniel Schiavoni
Jornalista

Jornal Olhar

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